A Moda e o Empoderamento Negro

As pautas raciais têm ganhado muita relevância nos últimos tempos e com isso grandes marcas, produzidas por e para pessoas negras, têm alcançado a alta moda. Estéticas da cultura afro tem se tornado tendência, modelos e artistas negros nunca foram tão cotados para trabalhos e propostas, todas as marcas querem estampar pessoas negras em suas campanhas, isso tudo contribui para o empoderamento negro.

Desde sempre pessoas negras precisam andar muito bem vestidas para tentar acessos na sociedade, e bem vestidas no sentido de atender a uma estética aceita pela branquitude. A roupa acaba sendo uma ferramenta de acesso, para serem bem atendidos numa loja, para não serem confundidos com bandidos, para serem bem vistas numa entrevista de emprego e muito mais, desde coisas muito pequenas até as enormes e mais essenciais.

Daí surge o primeiro elo entre a moda e o empoderamento negro. Ouvi uma influenciadora dizer que foi se questionar por que escolheu essa área, depois de anos trabalhando com moda, e percebeu, que no fundo não foi uma escolha, ela precisava se vestir bem, logo se interessar por moda foi uma consequência desse racismo estrutural.

Pessoas negras precisam se preocupar o tempo inteiro em como se vestem, e não é uma questão de estética, e sim de proteção de um sistema racista.

O que nos leva a entender que a moda e o empoderamento negro podem ter uma relação de impulsionamento na mesma proporção em que pode ser uma relação tóxica.

A seguir, algumas problemáticas:

Tendências (Ex: Brasil Core)

A tendência Brasil Core traz a estética da favela para as passarelas e ruas. De alguma forma isso empodera pessoas negras, dá visibilidade à cultura das comunidades, tornando suas roupas algo bem visto, reproduzido e desejado pelo mundo todo.

Porém, na prática, essa estética só passou a ser bem vista quando vestida por brancos. Enquanto só negros e favelados usavam shortinho, blusa e chinelo, ninguém achava interessante, e inclusive muitos já foram alvos do racismo por estarem vestidos dessa forma, esse fato torna essa tendência um assunto polêmico e complexo.

Pessoas negras e a visibilidade na moda e arte

Com a visibilidade das pautas raciais, grandes marcas foram pressionadas e cobradas a se posicionarem com atitudes anti racistas. Porém, esse movimento infelizmente se reduziu, na maioria dos casos, à estratégia de marketing. Trazer pessoas negras para as campanhas de moda e publicidade se tornou uma tendência, a resposta positiva das pessoas quanto a isso se transformou em engajamento e aí podemos observar uma mudança rasa e superficial de comportamento que acaba chegando apenas na camada da publicidade. Quando na verdade o que vemos são: escopo de funcionários majoritariamente brancos, pessoas negras com salários ou cargos reduzidos, modelos negras sendo minoria ainda nos sets, ou seja, um comportamento que não se alinha com o que é comunicado e praticado.

Muitos casos de trabalho escravo na indústria da moda

Muitos casos de trabalho escravo na indústria da moda são particularmente preocupantes quando consideramos o impacto desproporcional que têm sobre trabalhadores negros. Historicamente marginalizados e oprimidos, os trabalhadores negros frequentemente encontram-se em situações de maior vulnerabilidade, sujeitos a abusos e exploração em virtude de sistemas estruturais de racismo e discriminação.

Apropriação Cultural

Fazendo um gancho com a pauta que vem a seguir, podemos observar que na maioria dos casos acima, o que torna o que poderia ser empoderamento negro em racismo no mundo da moda, é causado pelo capitalismo, desde as tendências que viram apropriação cultural até comunicação antiracista apenas como estratégia de marketing. Por isso vamos conhecer a economia solidária e como ela pode ser aplicada na moda de forma a minimizar as problemáticas apresentadas e outras mais.